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12 de julho de 2011

Um careca na minha vida

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Eu tenho um careca para chamar de meu. O meu careca não tem a cabeça bonita ou atraente. PAssa longe do sexy. É uma careca torta, com buraquinhos e de herança da infância uns machucados que nunca cicatrizaram, mas mesmo assim o careca é meu. Me orgulho da sua carequice, já que assumiu a forma desde os vinte e pouco anos, quando ainda precisa de cabelos para pegar as gurias na noite. O meu careca tem caspa e ainda rouba os meus shampoos durante o banho, só me livrei do condicionador!

O meu careca tem personalidade, enquanto uns ainda ficam no esquema: empresta para um lado, empresta para o outro e surge uma franja falsa. O meu careca é tão assumido que não se contenta em passar somente a maquina zero na cabeça, precisa usar a gilete e ter certeza que não sobrou um fiapo de cabelo. O meu careca cuida da sua careca. Ela sempre está brilhando feito uma lua – grande e cheia de marcas.

O meu careca é descolado, no inverno usa touca de lã feita pela mãe ou ela Renner. No verão nossa preocupação é a careca. Não podemos jamais estragar ou destruir esta obra de arte. O meu careca coloca os óculos de sol na gola da camiseta, na cabeça ele escorrega. O meu careca tem mais dentes que qualquer outro homem.

O meu careca me conquistou exatamente pela falta de cabelo, mesmo que hoje eu tenha fetiche com homens cheios de cabelos encaracolados e pelos ombros.

A inspiração!


VINTE RAZÕES PARA AMAR UM CARECA

Por Fabrício Carpinejar

1. Não é que o careca é careca, ele tem mais rosto. É somente rosto. Sua mulher nunca erra um beijo em sua face. Atrás da cabeça ainda é bochecha. Não há aquele risco desagradável de engolir cabelo.

2. O careca é um ponto de referência em qualquer lugar público. No supermercado, por exemplo:
- Onde é o corredor do arroz?
- Depois daquele careca, à esquerda.

3. O homem larga a pose alfa, tem um maior contato com a natureza, arrepia-se com as gotas da chuva ou as lufadas geladas do vento.

4. A careca é uma zona erógena e pode ser aplicada como instrumento preciso para massagens eróticas nas costas da mulher. Trata-se de uma plataforma vibratória, com funções aeróbica, anaeróbica e terapêutica.

5. Fim dos furtos dentro de casa. O xampu e o condicionador da esposa duram o dobro de tempo.

6. O macho deixa de ser hipócrita, não perguntará para a mulher de quem são os cabelos no ralo ou na pia. Com o fim da concorrência, agora tem certeza que são dela.

7. Não corre o risco de se afeminar com o uso excessivo do secador.

8. Na pressa, não precisa tomar banho, apenas completar o polimento.

9. O careca não passará pelos vexames sociais da caspa ou do piolho.

10. Nunca envergonhará sua companhia pintando os cabelos de acaju ou recorrendo às luzes.

11. Reduz as possibilidades de câncer de pele. Começa a pôr protetor solar para sair ao trabalho, não se restringindo a se prevenir da radiação ultravioleta nas férias.

12. Não é bobo de gastar R$ 50 mil como Eike Batista para comprar uma peruca italiana. Não é bobo de virar sósia de Silvio Santos com peruca de R$ 50.

13. O careca é maduro, confiável, único homem que realmente abandonou a adolescência.

14. Ninguém reclamará que ele é vaidoso e que vive se olhando no espelho para ajeitar o topete.

15. Se cometer algum crime, pode mudar de personalidade colocando um chapéu, uma boina ou um boné.

16. O careca não enrola, assume o romance. É tudo ou nada. Não admite meio-termo: implante, aplique, calendário pilomax. Prefere uma cabeça raspada a falsas esperanças.

17. Rejuvenesce no ato. Aparenta cinco anos menos do que os seus colegas grisalhos ou de mechas tingidas.

18. Não existe mais nenhum problema que possa fazer o careca perder cabelo.

19. Elas gostam dos carecas porque os carecas se gostam.

20. Todo careca sabe quem foi Yul Brynner.

Publicado no jornal Zero Hora
Coluna semanal, p. 2, 12/07/2011

4 de julho de 2011

ela é o diabo da tasmânia

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sempre que pensava em ter o meu cachorro, pensava na raça beagle. sempre me encataram por suas caras de piedade e coitadinhos. o currículo da raça era assustador, o que causou uma demora de 3 anos na compra, mas acabei ganhando de presente, com certificado e certidão de nascimento no meu nome no espaço mãe, pai estava desconhecido. tinha tipo sanguíneo, cor da pelagem e dos olhos. Confesso, foi amor a primeira vista. era inverno. ela tinha uns 30 cm e 40 dias. ao entrar em casa fui expulsa pela vó materna da cadela. como já éramos uma dupla, fizemos nossa sacola de roupas prendemos em um cabo de vassoura e ao bater a porta a sem coração voltou atrás e pediu para que voltássemos.

como a carência era tanta e o apego maior ainda, nada mais apropriado dar o nome de gente - Betina, assim chama a minha revoltada e diabólica cadela. no fundo eu a amo. é uma relação de amor e ódio que construímos ao longo dos 6 últimos anos.

outra confissão. não sou uma boa mãe. ela não é uma boa filha. (aqueles que não entendem a relação de carinho entre uma pessoa e seu animal de estimação pode sair do post e partir para outra).

nunca consegui ensinar nada para a betina. ela nunca aprendeu a ter horários para fazer xixi e coco. aliás, com passar dos anos, ela se especializou em fazer as necessidades sempre na madrugada. como é bom levantar no frio às 4h na manhã para juntar o cocô que fede tanto que acorda o prédio inteiro.

tão pouco consegui ensinar que cama, cobertor, lençol, tapete e roupas quando no chão não servem para as tais necessidades. e que toucas, meias, blusas e sutien não são brinquedos que ela pode roubar e sair correndo pela casa.

a convivência não é fácil. difícil é ter sempre uma surpresa nova a cada dia. ela não cresce. os veterinários me diziam, hoje não falam mais nada, quando ela entrar no cio vai passar. nada, só acelerou. foram-se os sapatos, calças, camisetas, escovas de cabelos, fios de eletricidade... a lista é grande. e a sua vontade de destruir é maior ainda.

hoje com seis anos ela só perdeu o folego para correr.

ninguém imagina a alegria que é chegar em casa e encontrar sua geladeira aberta, com pó de café no chão, vinagre aberta, cebola, batata e tomate devorados, a borracha que fecha o utensílio doméstico mastigado. nada é mais lindo de se ver. quando entrei em casa e vi a cena pensei, fui assaltada ou será que minha casa foi cenário de guerra e não estava sabendo?
e ela com cara de anjo e pança cheia. não sei como não precisei fazer lavagem estomacal.

estas são imagens que adoro ver ao chegar em casa.

ainda. uma vez coloquei uma lata de tinta branca embaixo da pia da cozinha. quando cheguei em casa o diabinho da tasmânia tinha tirado o pote para fora, abriu e derramou a tinta de 50,00 pelo chão, não satisfeita, arrombou o portão que fica na cozinha e foi para o resto da casa. baixou a pintora moderna na cadela e ela pintou com as patinhas e corpo todo o piso do apartamento. outra cena que não passa pela cabeça de ninguém, nem nos piores pesadelos.

não sou uma boa mãe.

só consegui ensinar para a betina a ser carinhosa, manhosa, delicada e a dar beijo. não se pode falar a palavra beijo. ela sai feito louca que é, lambendo todos a volta. constrangedor.

qualquer semelhança com o filme marley e eu não chega nem a 1% do que ela é capaz.
no episódio da geladeira, precisei trocar. no sofá, onde ela adora passar a tarde tirando uma soneca precisei jogar no meio da rua. até o andarilho rejeitou.
até descobrir que durante a noite ela não dorme somente, tive muitos prejuízos - o próprio sofá, os tapetes, a cama (sim ela achava e tem convicção que cama de gente era banheiro) as cobertas...

hoje, para irmos para a cama, preciso desmontar a sala, tirar as almofadas do sofá e só deixar a madeira aparecendo. e nada pode ficar abaixo de 1,5 metros. ela pula e pega. no outro dia pela manhã montamos a casa novamente.

eu não sou uma boa mãe.
ela não é uma boa filha.

ela aprendeu que dormir precisa ser na cama e no meio do casal e embaixo do lençol, essa de ficar por cima e nos pés é contra a sua natureza diabólica.

quando o ricardo chegou na nossa vida, corri e avisei:

- quem manda aqui é ela. nós obedecemos.