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9 de novembro de 2009

não me desculpem


última aula de crônicas com Carpinejar. Triste.
Abaixo o último texto sob os olhos descontroláveis dele.
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Acho que foi o fato de ser filha única. O centro da família pequena. Tudo girava ao meu redor, até os assuntos que eu não desejava. Tudo se resumia em mim. Na adolescência para amenizar o mártir que era se única - filha, neta e sobrinha, comecei a sabatina de escrava isaura.

Como recreacionista trabalhei durante dois anos. uni saber brincar de boneca com um pouco de conhecimento teórico. Sob meus cuidados ficavam dez crianças - de 4 meses a 2 anos. Logo me apaixonei por umas três ou quatro. As outras recebiam de mim a atenção necessária. Bem informal.
Os escolhidos recebiam mimos quase que em tempo integral. Apelidos não faltavam - uma era paixão, outra amor da vida e outro gatão. Os demais tinham apenas seus nomes de batismo.

Sempre tive um olhar crítico, que me acompanha desde a infância. Os pais que não me desculpem. Quando aparecia uma nova criança e era feia, não dizia para a mamãe:
- Vem com a titia lindão!
Chamava só pelo nome. Sem adjetivos. Afinal, o menino já tinha a família inteira pra mentir durante toda a vida.

Os meus queridos , sim, eram lindos de doer.

E apesar de amar tanto aqueles pimpolhos, eles também sofreram comigo. Os outros alunos não choravam - só dedicava a eles o básico: comida na hora certa, troca de fraldas, algumas brincadeiras e um colinho quando necessário.

Com certeza foram os dedos podres de minha família que me fizeram uma torturadora incansável. Acostumada a receber carinho e atenção sempre, e sem pedir - principalmente ouvir juras de amor eterno, passei a massacrar os meus alunos favoritos. Aí dele se ficasse em dúvida do amor e predileção por mim.
Dia ou outro, dependendo da minha honesta e exagerada carência, estufava o peito, fechava a cara, endurecia o dedo indicador e batia de leve, mas de forma dura, o mesmo dedo no peitinho de um deles e dizia:

- A Renata não te amo mais. Tu não é mais o amor da Renata.

Repetia a frase até que as lágrimas começassem a cair descontrolavelmente , assim um simples abraço não seria suficiente para acalmar o coraçãozinho. Seria preciso um dia inteiro de chamegos e muitos beijos.
Aí daqueles que se aproximassem de mim. O torturado. Vítima, não permitia , afastava todos e gritava bem sentido: A Renata é minha!

Outras vezes reunia todos no pátio e durante as brincadeiras pegava a chave e da tchau, dizendo que estava indo embora. O choro era geral. Todos agarradinhos na grade berrando: Não Renata. Volta.
Eu dava mais alguns minutos e aparecia. Mesmo eu fazendo seguido, eles sempre caiam.

Cumpria a risca todos os caprichos de cada um deles. Sem sentimento de culpa. É claro.

Encerrava o expediente com a certeza de que fiz o melhor por eles e por mim.

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não me desculpem!

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